25 fevereiro 2007

Ética (Desconheço O Autor)




















Ele tinha onze anos, e a cada oportunidade que surgia, ia pescar no cais próximo ao chalé da família, numa ilha que ficava em meio a um lago.

A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho saíram no fim da tarde para pegar apenas peixes cuja captura estava liberada.

O menino amarrou uma isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações coloridas na água. Logo, elas se tornaram prateadas pelo efeito da lua nascendo sobre o lago.

Quando o caniço vergou, ele soube que havia algo enorme do outro lado da linha.

O pai olhava com admiração, enquanto o garoto habilmente, e com muito cuidado, erguia o peixe exausto da água.

Era o maior que já tinha visto, porém sua pesca só era permitida na temporada.

O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras para trás e para frente.

O pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio. Eram dez da noite, faltavam apenas duas horas para a abertura da temporada.

Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo:


- Você tem que devolvê-lo, filho!

- Mas, papai, reclamou o menino.

- Vai aparecer outro, insistiu o pai.

- Não tão grande quanto este, choramingou a criança.


O garoto olhou à volta do lago.Não havia outros pescadores ou embarcações à vista.

Voltou novamente o olhar para o pai. Mesmo sem ninguém por perto,sabia,pela firmeza em sua voz,que a decisão era inegociável.

Devagar,tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura.O peixe movimentou rapidamente o corpo e desapareceu.

E naquele momento,o menino teve certeza de que jamais veria um peixe tão grande quanto aquele.

Isso aconteceu há trinta e quatro anos.Hoje, o garoto é um arquiteto bem-sucedido.

O chalé continua lá,na ilha em meio ao lago,e ele leva seus filhos para pescar no mesmo cais.

Sua intuição estava correta.

Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite. Porém, sempre vê o mesmo peixe repetidamente todas as vezes que depara com uma questão ética. Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de certo e errado.

Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa.A ética,porém,está em agir corretamente quando ninguém está nos observando.

Essa conduta reta só é possível quando, desde criança, aprendeu-se a devolver o peixe à água.

A estória valoriza não como se consegue ludibriar as regras, mas como, dentro delas, é possível fazer a coisa certa.

A boa educação é como uma moeda de ouro: tem valor em toda parte.

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